Governador leva ex-presidenta e candidata ao Senado para o palanque, enquanto PSDB tenta driblar rejeição ao senador e réu
Dilma já anunciou sua candidatura ao Senado; Aécio não disse nem sim, nem não. Foto: Pedro França/Agência Senado |
Carta Capital - “Sempre que eu pergunto ao Bias Fortes (político mineiro) se ele estará em Barbacena no fim de semana (sua cidade natal) e ele me diz que sim, eu sei que ele não vai estar. Mas às vezes eu vou, porque às vezes ele está”. Esse conto mineiro é atribuído a Tancredo Neves, e simboliza um pouco como funciona a política local, onde os acordos são selados após intensas conversas, mas não sem boa dose de desconfiança.
Na disputa deste ano, não faltam conversas de bastidores e dúvidas sobre o impacto da reedição de velhas rivalidades postas à prova em 2014.
A campanha estadual começou a ganhar contornos importantes quando surgiu a possibilidade da ex-presidenta Dilma Rousseff ser candidata ao Senado pelo estado, o que se confirmou agora em junho.
Um dos possíveis adversários de Dilma será, novamente, Aécio Neves (PSDB), derrotado por ela nas eleições presidenciais em 2014. Mesmo que não disputem o mesmo cargo, Dilma e Aécio influenciarão diretamente uma corrida estadual nacionalizada, capaz de reeditar a polarização entre PT e PSDB no segundo maior colégio eleitoral do País.
Para o governo, despontam os nomes do senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB) – relator do processo de impeachment de Dilma - e do atual governador Fernando Pimentel, que cultiva sua velha proximidade com a ex-presidenta.
A nacionalização da campanha transformará as eleições, segundo o cientista político Felipe Nunes, em uma disputa plebiscitaria. “Será binário, os azuis contras os vermelhos. Dilma é o símbolo mais forte de Pimentel de que ele é da turma do Lula, e na campanha ele tentará colar a imagem de Anastasia como aquele da turma do Temer.”
Em 2014, a vitória de Pimentel ao governo modificou o comportamento dos eleitores nas últimas eleições. Antes, os mineiros agradavam a todos: a maioria costumava votar nos tucanos regionalmente e nos petistas para o cargo nacional.
Os desafios para a reeleição de Pimentel não serão poucos. Além de rivalizar com o aecismo, abalado pela acusação contra o senador por corrupção e obstrução de justiça, o atual governador terá de reformar a imagem de seu governo, desgastado pela falta de recursos e investimentos, que inclui desde o corte de verbas em programas importantes, como na área da saúde, até o atraso nos salários dos servidores públicos.
Interlocutores reafirmam que a crise no estado será a grande pedra no sapato do governo. Rogério Correia, deputado estadual pelo PT e primeiro-secretário da Assembleia, afirma que o contra-argumento para a acusação de má gestão são “os efeitos do golpe em Minas”, e nesse sentido, a figura de Dilma será um recurso importante na disputa da narrativa.
Do outro lado, Anastasia esforça-se para se liberar da imagem de Aécio sem deixar de lado o capital político herdado do padrinho. Aécio ainda não sinalizou se sairá candidato à reeleição ao senado ou para a Câmra, ou se atuará nos bastidores. A exposição de Aécio pode criar dificuldades para sua defesa no Supremo Tribunal Federal.
A pesquisa feita pelo Instituto Paraná em maio aponta Dilma na dianteira, com 24,4% das intenções de voto, contra os 21,1% do tucano. Este ano estão abertas duas vagas para o Senado em Minas. Uma pelo próprio Aécio, cujo mandato termina em 1º de fevereiro, e a outra deixada por Zezé Perella (PSDB), que já desistiu de tentar a reeleição.
Além de Dilma, o governo ainda define se apoiará a candidatura da deputada-federal João Moraes, do PCdoB, também cortejada pelo PSB, ou se irá negociar com algum nome de centro.
PSB
Outro pré-candidato ao governo mineiro é Márcio Lacerda (PSB), ex-prefeito e um nome capaz de embolar ainda mais o jogo. Lacerda anunciou nesta semana o apoio do PROS e do PTD a sua a candidatura, mas não descartou, contudo, assumir como vice de Ciro Gomes (PDT) a disputa presidencial. Seu nome é cotado pelas lideranças do PSB para consolidar uma aliança com o pedetista.
O desfecho ainda depende das negociações dos diretórios nacionais do PSB e do PT. Os petistas confiam que se forem retiradas suas candidaturas próprias em Pernambuco e na Paraíba, o PSB nacional estaria inclinado a apoiar Lula ou seu indicado. Seja como for, interlocutores afirmam que dificilmente Lacerda irá apoiar a chapa de Pimentel.
Por outro lado, fontes no PSB afirmam que a aliança com Lula é improvável. A tendência atual do partido é apoiar Ciro Gomes, e Lacerda pode ser o nome para compor a chapa com o presidenciável.
A sombra do MDB
A presença de Dilma na campanha levanta a poeira do MDB mineiro jogada por Pimentel para debaixo do tapete desde 2016. O governador conseguiu segurar a base emedebista no estado durante e após o processo de impeachment da ex-presidenta. Na época, os seis parlamentares da sigla no Congresso voltaram pelo afastamento de Dilma.
A relação foi publicamente rompida no início deste ano, e marcada pela abertura do processo de impeachment do governador pelo presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, tão logo o nome de Dilma foi posto em jogo.
Nos bastidores, a cisão teria sido provocada pela pretensão de Lopes a uma das vagas ao Senado pela chapa do governo. Outra justificativa é pressão que o vice de Pimentel, Antônio Andrade, e o próprio presidente da Assembleia estariam sofrendo do diretório nacional do MDB para abandonar o governo e apoiar o grupo tucano em Minas, liderado por Anastasia. O PSDB integrou a base do governo do presidente Michel Temer a partir de sua posse, rompendo no fim de 2017.
Embora Andrade já tenha anunciado sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, os deputados federais emedebistas avaliam que a coligação com o PT estadual daria mais possibilidades de eleição e reeleição do que concorrerem em chapa própria, levando em conta o coeficiente eleitoral.
Caso os petistas reformem essa aliança, cria-se uma fissura de natureza essencialmente política: Pimentel e Dilma terão de fazer campanha ao lado de políticos que ajudaram a tirá-la de Brasília.
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