Nordeste é roteiro indispensável na corrida à presidência

Presidenciáveis organizam o xadrez eleitoral na região de olho nos 38,1 milhões votos que estarão em jogo nas eleições de outubro deste ano

DP

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Poucos ainda sonham com trechos da música Nordeste Independente, que chegou ao auge nos anos 1980 na voz da intérprete Elba Ramalho. O verso que dizia Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente ficou na saudade daquela geração. A região, contudo, não perdeu importância no jogo do poder. Ao contrário, ganhou relevância ao ajudar nas três últimas vitórias do PT para a Presidência da República, sendo roteiro indispensável dos presidenciáveis e aliados.
O tempo mostrou que ignorar um celeiro de 38,1 milhões votos, perdendo apenas para o Sudeste, não é apenas um risco, mas um erro de estratégia. Por isso os afagos no eleitorado, como aconteceu na semana que passou, quando o ex-presidente Lula, Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) cumpriram agendas na Bahia, no mesmo dia, dividindo a atenção no maior colégio eleitoral do Nordeste e quarto do Brasil. Só na semana passada, para se ter uma ideia, a presidente Dilma Rousseff (PT) visitou quatro estados nordestinos, incluindo Pernambuco.
A diferença desta eleição no Nordeste, contudo, é que o PT não parece ser tão favorito como antes. Dilma sofreu desgastes quando veio em Pernambuco e levou vaias em João Pessoa (PB) na sexta-feira, dois estados governados pelo PSB. Um sinal de que os adversários estão se municiando.
Mesmo sendo o menos conhecido do eleitor, Eduardo conseguiu montar palanques próprios em seis dos nove estados nordestinos – Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Alagoas e Sergipe. O PT possui apenas dois nomes: Bahia e Piauí. Enquanto o PSDB tem seu DNA na Paraíba e em Alagoas.
Armas
Tucanos dizem, em reserva, que quantidade não é qualidade e os petistas repetem o mesmo discurso, sendo de forma reservada, para não mostrar as armas aos adversários antes do tempo. Um cacique nacional do PSDB lembrou que, mesmo sem ter o número de pré-candidatos do PSB, os tucanos saem com peso nos estados de Sergipe, Bahia e Maranhão, além de Alagoas e Paraíba, havendo prognóstico parecido do PT nesses mesmos estados.
Já os socialistas vêm apostando em nomes novos como pré-candidatos ao governo, a maioria estreante em disputas majoritárias. Mas eles lembram que, apesar da força que o PMDB vai dar a Dilma na região, com pré-candidaturas em pelo menos seis estados, nenhuma delas promete amor eterno.

Abaixo, vejo o raio X de como anda a disputa na região nordestina

Bahia
Eleitorado  - 10.110.122
Na Bahia, dos três presidenciáveis, dois (Dilma Rousseff e Eduardo Campos) têm candidatos próprios para disputar o governo do estado e o maior colégio eleitoral do Nordeste. Eles apoiam respectivamente os nomes de Rui Costa (PT) e Lídice da Mata (PSB). Rui não era a primeira opção do PT, nem Lídice do PSB. Já o senador Aécio Neves (PSDB) vai subir no palanque de Paulo Souto (DEM), que tem o apoio do prefeito ACM Neto (DEM). O estado baiano é governado por Jaques Wagner (PT).
Ceará
Eleitorado - 6.192.371
O clima eleitoral no estado cearense está tenso para os pré-candidatos de Dilma Rousseff (PT). A presidente cogita a possibilidade de não fazer campanha nesse estado, porque existe a possibilidade de a base governista sair rachada, com uma candidatura bancada ao governo do estado pelos irmãos Gomes (Cid e Ciro) e outra sustentada pelo PMDB, a do senador Eunício Oliveira (PMDB). O PSB vai sair em raia própria, lançando a presidente do PSB de Fortaleza, Nicolle Barbosa, para o cargo de governadora. Nicolle,  contudo, não é favorita. Mas também conta com o apoio da Rede.
Pernambuco
Eleitorado - 6.498.122
O favorito na disputa para o governo do estado é o candidato do PSB, Paulo Câmara, em virtude do peso da máquina administrativa e da gestão bem avaliada do ex-governador Eduardo Campos. Mas Dilma Rousseff também tem um palanque forte no estado pernambucano, a do senador Armando Monteiro Neto (PTB). O PSDB entrou na base de Eduardo Campos no início do ano, mas há estremecimentos grandes. O deputado estadual Daniel Coelho continua cogitado como governador pelo PSDB. 
Maranhão
Eleitorado - 4.558.855
O PSB e o PSDB subirão no mesmo palanque no Maranhão para apoiar o candidato do PCdoB, Flávio Dino. É uma aliança curiosa, se considerado o fato que, em 2010, lideranças do PT fizeram greve de fome para que a legenda petista apoiasse sua candidatura e não levantasse a bandeira de Roseana Sarney (PMDB), filha de José Sarney. Lula não conseguiu, na época, romper com o clã dos Sarney e o PT liberou alguns filiados para fazer campanha para Flávio Dino, que agora tem apoio dos tucanos.  Dilma vai apoiar Lobão Filho (PMDB).
Paraíba
Eleitorado - 2.865.819
O PSB e o PSDB romperam na Paraíba, mas o favorito ainda é o candidato do PSB ao governo do estado, Ricardo Coutinho, que tenta a reeleição. Os tucanos estudam a possibilidade de apoiar a candidatura de Cássio Cunha Lima (PSDB), que tem uma popularidade altíssima no estado. O PT, que na campanha passada esteve com Coutinho, vai defender o nome do ex-prefeito de Campina Grande para o governo Veneziano Vital do Rego (PMDB). Veneziano é irmão do senador Vital do Rêgo, o Vitalzinho, muito próximo da cúpula petista.
Piauí
Eleitorado - 2.365.074
No Piauí, existe um cenário parecido com o de Pernambuco. O governador José Filho (PMDB) pode disputar a reeleição, como João Lyra (PSB), mas foi convencido a não concorrer. O PSB e o PSDB vão estar juntos na chapa majoritária encabeçada pelo deputado Marcelo Castro (PMDB). O vice será Sílvio Mendes (PSDB) e o candidato ao Senado será o ex-governador Wilson Martins. Houve um certo mal-estar no PSB esta semana quando perguntaram a José Filho quem era seu candidato ao Senado e ele respondeu “o voto é secreto”, mas socialistas garantem que resolveram. O candidato de Dilma é o senador Wellington Dias (PT).
Rio Grande do Norte
Eleitorado - 2.355.539
Apesar da aliança entre  Eduardo Campos e Marina Silva, ainda há um estremecimento entre a Rede e PSB no Rio Grande do Norte, porque os socialistas querem apoiar a candidatura do deputado federal Henrique Alves (PMDB) para o governo desse estado e lançar a ex-governadora Wilma de Farias (PSB) como senadora. A Rede quer que o PSB tenha candidatura própria. Henrique Alves está montando um blocão e também vai receber o apoio do PSDB.  O PT foi isolado por antigos aliados e deve apoiar a candidatura do vice-governador, Robson Faria (PSD). O martelo ainda não está batido. Fátima Bezerra (PT) será candidata ao Senado.
Alagoas
Eleitorado - 1.863.029
O PSB e o PSDB montaram palanques diferentes em Alagoas, mesmo tendo pontos em comum. Eduardo Campos vai apoiar a candidatura do deputado federal Alexandre Toledo (PSB) e Aécio Neves fará a campanha do procurador de Justiça e ex-secretário de Defesa Social Eduardo Tavares, nome escolhido pelo governador Teotônio Vilela (PSDB).  Dilma Rousseff deve subir no palanque do deputado federal Renan Filho (PMDB).
Sergipe
Eleitorado - 1.386.366
A eleição em Sergipe ainda está embolada. O senador Antônio Carlos Valadares (PSB) deve armar o palanque para Eduardo Campos nesse estado, mas ele também tem uma boa relação com a presidente Dilma Rousseff (PT). O candidato do PSDB será o senador Eduardo Amorim (PSC), corre por for a atualmente, mas pode contar com a ajuda do prefeito de Aracajú, João Alves (DEM) Filho. O governador Jackson Barreto, que antes também tinha a simpatia do PSB, decidiu apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

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